16 de abril de 2011

Pecados Verdes

Enquanto aguardo meu vôo num aeroporto qualquer, sigo distraído pelos corredores de uma revistaria.
Olhos que procuram as manchetes dos jornais e revistas, lembranças de última hora, títulos de livros, até que a foto de uma maçã verde mordida chama a minha atenção. Logo abaixo, o título indica uma pesquisa exclusiva com a frase: “Seus pecados verdes foram revelados”.
A leitura da revista Seleções do Reader’s Digest sempre foi pra mim um sinônimo de lazer. Textos rápidos, fatos pitorescos, e diversão garantida com a seção “Rir é o melhor remédio”, entre outras coisas. Mas dessa vez, a pesquisa traz dados interessantes sobre um tema que me é peculiar.
Durante minhas aulas, gosto de abordar a sustentabilidade como uma competência essencial individual, e sempre uso exemplos cotidianos para provocar os meus alunos, com o claro objetivo de ajudá-los a incorporá-la em seus perfis pessoais e profissionais, em prol de um mundo melhor.
A mensagem principal é sempre a mesma: As grandes mudanças, que fazem nosso planeta mais sustentável, ocorrem quando os simples cidadãos, individualmente, adotam hábitos conscientes que satisfazem suas necessidades, mas não impactam as gerações futuras, e sua capacidade de satisfazer suas próprias necessidades.
São atos simples, mas que quando incorporados ao nosso dia a dia, ganham poder de influência para uma disseminação ampla em toda a sociedade.
A pesquisa ouviu 2269 brasileiros, e buscou compreender o nível de entusiasmo sobre o que é bom para o meio ambiente.
99% dos entrevistados se identificaram como comprometidos com o meio ambiente, porém somente 23% demonstraram um real comprometimento.
Não houve surpresa ao saber que 94% se assumiram usuários de sacolas plásticas de supermercado, e que 72% se sentem mal ao usá-las. Mas chamou a atenção quando 17% o fazem como ato de rebeldia pró-plástico.
56% dos participantes da pesquisa jogam lixo no compartimento errado – quando jogam, pois no Rio de Janeiro, por exemplo, 40% do lixo recolhido vem das ruas.
96% deixam a torneira aberta ao escovar os dentes, 69% tomam banhos de mais de 4 minutos, e um em cada cinco confessa sentir um gosto de rebeldia ao tomar banhos mais demorados, ou mesmo ao tirar o carro da garagem para ir somente até a esquina.
Não vou continuar, pois meu objetivo não é discutir a amostra, a precisão, ou mesmo a qualidade da pesquisa. O que gostaria de fazer é uma singela reflexão sobre nossa incapacidade em compreender a importância de um processo de conscientização individual como a maior das armas que a sociedade possui na grande guerra pela sua própria sobrevivência. Uma guerra em que o maior inimigo é, surpreendentemente, ela mesma.
É inegável a importância das grandes corporações nessa questão. Tenho jogado mais da metade de minhas fichas na relevância de uma mudança de atitude das lideranças empresariais pela inclusão de uma co-responsabilidade socioambiental consistente na estratégia de condução de seus negócios.
Também acredito que governantes éticos, com sólidos valores e princípios, serão responsáveis por transformações extraordinárias, e que talvez desmintam as trágicas previsões dos realistas de plantão.
Mas toda essa mudança somente será possível quando uma educação adequada de nossas crianças, uma capacitação atualizada de nossos profissionais, e um engajamento pleno de nossos stakeholders, for suficiente para lapidar essa valiosa esmeralda que é a nossa cultura.

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