25 de julho de 2011

Fazedor de Montanhas


Na sequência de cada expressão, de cada olhar e após cada um do diversos depoimentos e reflexões que compõem o ensaio-documentário “Fazedor de Montanhas” de Juan Figueroa, está sempre uma grande preocupação: o lixo.
O filme já começa com mendigos sendo retirados da rua e levados como “lixo comum” por um caminhão com conteúdo óbvio: o lixo.
Cenas absurdas são montadas sobre um aterro, ou à margem de um rio poluído da cidade grande, e expõem a ironia e a contradição existente naquilo que sobra depois do nosso consumo desenfreado: o lixo.
A questão é dissecada, esgarçada, e exposta à exaustão como uma grande e incurável ferida. Desde o mais singelo comportamento de desprezo pelo que é superficial, até o lixo em forma de personagem, que se materializa nas palavras emocionadas de uma ex-torturada. Felizmente, nesse caso, um lixo que volta a ser uma bonita pessoa, graças ao amor que recebe de seus amigos.
Leonardo Boff viaja pelo livro do Apocalipse, pela Teoria do Caos, e suas palavras refletem a sabedoria que a narrativa precisa para nos equilibrar nos passos lentos de um Jesus Cristo incrédulo, que abandona seus apóstolos à mesa da Santa Ceia, e caminha sobre toneladas de lixo, até encontrar um pedaço de pão. Jesus pára, se abaixa, resgata o pedaço de pão do meio daquela montanha bem diferente da outra que ficou conhecida em seu famoso Sermão. Jesus tira uma lasca daquele pão, e ao colocá-lo em sua boca, dá mais uma prova de seu amor por nós, mesmo em nossa forma mais destrutiva: o lixo.
Gostaria de comentar todas aquelas frases ditas por olhos que quase nunca olhavam para as lentes da câmera, mas minha consciência diz para não fazer isso agora.
Essas minhas palavras terão muito mais importância se forem fortes o suficiente para motivar os leitores para que assistam também a esse trabalho, e dele, tirem suas próprias conclusões.
Tenho visto bons materiais sobre a sustentabilidade, ou na maioria das vezes, sobre a falta dela. Mas poucos tiveram tanto impacto sobre mim quanto esse.
Daqui pra frente, não sei como vou enxergar os lixos que gero ao longo dos meus dias. Na verdade, não estou certo se irei aceitá-los. Não estou falando somente do lixo comum e inevitável que sobra de meu consumo. Estou falando das raivas que sinto, da tolerância que não tenho, dos meus ouvidos que não escutam, dos relacionamentos que não cuido, das minhas mãos que não afagam, do amor que não dou. Tudo isso e muitas outras coisas que, ingenuamente, me recuso a ver.
Afinal, como diz a mensagem principal do filme: O lixo é tudo aquilo que não queremos ver.