25 de maio de 2012

Dilemas e contradições


Durante uma visita a uma importante empresa, eu falava entusiasmado sobre minha visão em relação à internalização da sustentabilidade nas organizações.
Eu também não poderia perder a chance de enfatizar a importância quando esse processo ocorre em empresas daquela dimensão.
Foi uma reunião muito rica, com várias intervenções, onde certamente dei o melhor de mim, e aprendi muito também.
Logo ao terminar, vi uma pessoa de expressão madura e muito séria, até então imóvel, que pediu a palavra.
Não demorei a perceber que se tratava de uma liderança técnica importante, e seu depoimento colocou algumas dúvidas sobre minha abordagem, que buscava integrar os principais fundamentos da sustentabilidade aos objetivos dos negócios.
Decididamente, ele não se convencia de que “somente” atitudes, engajamento, relacionamentos, equilíbrio, e competências essenciais pudessem retirar seus trajes de palavras bonitas, e traduzir os reais dilemas que tem uma organização quando trata de vender seus produtos e serviços no mercado.
Ainda mais quando a sua valiosa marca significasse simultaneamente: um alto valor agregado à sociedade, mas também um indesejável impacto negativo ao meio ambiente.
É dessa contradição, que meu interlocutor reclamava e com razão.
Embora seu trabalho fosse justamente a pesquisa para a sustentabilidade, ele sabia que a melhor alternativa para uma solução definitiva talvez fosse, ironicamente, a extinção do principal produto de sua empresa.
Acredito que ele até esperasse por um inédito argumento. Algo que, como num passe de mágica, mudasse o valor das coisas, e evidenciasse cientificamente que os impactos negativos de tanta tecnologia, se transformassem em algo bom para a humanidade.
E eu, com todo meu entusiasmo, defendia coisas que se materializavam somente como ingênuas compensações, ou palavras adequadas e enganosas.
Em minha opinião, por uma perspectiva específica, ele estava coberto de razão.
Quando inovamos, e criamos desejadas soluções para problemas antigos, beneficiamos milhões de pessoas. Contudo, e inevitavelmente, corremos um alto risco de impactar ainda mais nosso planeta.
Esse lugar comum é a clássica contradição da definição de sustentabilidade, e isso o incomodou.
A má notícia é que os dilemas da “cura com veneno”, do “bem que faz mal”, não nos deixarão assim tão facilmente. As tendências otimistas não escaparão do ceticismo em relação a um desejado cenário de equilíbrio no futuro de longo prazo.
E assim, os profetas pessimistas não terão dificuldades para nos convencer sobre os riscos do provável fim do mundo. Eles proliferarão.
Além disso, cada vez mais, valorizaremos a destruição da natureza como um mal necessário, usaremos a ciência e a tecnologia para o bem e para o mal numa mesma escala, buscaremos o poder e a riqueza material a qualquer custo, e enfim, fingiremos que somos donos do mundo.
Nesse contexto, as empresas viverão cada vez mais o desafio de sua própria sobrevivência e a busca alucinada por lucros, proporcionalmente à pressão crescente de suas partes interessadas.
Isso não é nada diferente do que sempre foi desde o princípio dos tempos.
A diferença é que agora já sabemos o que é a ética e a transparência, já conseguimos destruir dogmas intocáveis no passado, somos chamados a assumir compromissos reais em relação a valores e princípios universais, e ainda somos valorizados por isso.
Com isso, temos condições de mudar nossa atitude, mesmo que ainda contaminada pela inércia anterior, e podemos evoluir para modelos nunca antes imaginados.
Seguiremos transformando lixo em matéria prima valiosa, até que os novos processos não o gerem mais. A ciência descobrirá novas soluções a partir de fontes renováveis dos mais diversos materiais, movidas por energias cada vez mais limpas.
A educação fará com que os jovens do futuro não destruam, pois simplesmente não conseguirão imaginar a destruição.
Em algum momento, os políticos que abandonam as causas, e defendem o poder, não mais conseguirão sua reeleição. Eles perderão seus eleitores, pois estes inacreditavelmente acordarão de seu transe da ingenuidade e ignorância.
E os consumidores finalmente perceberão o poder de sua capacidade de escolha, e virarão as costas para marcas que vendem o bem, mas entregam algo que não agrega valor.
Meu sonho é que sejamos assim. Que acreditemos, embora nunca percamos a noção da dimensão desse desafio.
Que sigamos em frente, que tenhamos argumentos suficientes para convencer os céticos e pessimistas, e que ao invés de destruir, sejamos uma sociedade finalmente sustentável.

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